domingo, 25 de dezembro de 2011

Pior que carne de cobra...



                              Paredão de Calcário localizado no vale do Peruaçu - Januária/MG.

Em Agosto de 2009 o amigo Wilson Grossi enviou uma história que marca os tempos de estudante em Ouro Preto. Numa das excursões da Sociedade Excursionista e Espelológica – “SPÉ”. Não tive o prazer de participar da história só vim conhecer a região onde se passou o fato, Vale do Pereaçu, depois de formado nos anos de CETEC. 

Na verdade a minha participação em espeleologia foi muito breve – na primeira excursão, na gruta de Hargreves, 1976, depois de uma noite na gruta eu e alguns excursionista fomos acometidos por uma tal histoplasmose – que me levou por alguns dias ao hospital. 

Mas a excursão em ao distrito de Ouro Preto, Rodrigo Silva, onde fica localizada a Gruta Hargreves, em 1976 traz boas recordações como o a origem ao apelido de Pacote ao Domingos Sávio, que hoje mora em São Francisco, norte de Minas. Pacote, Bagrão, Grossi, insistiram na carreira de espeleólogos mesmo depois do acontecido na gruta de Hargreves.

                  Cavernas do Vale do Peruaçu - Minas Gerais ( Foto autoria  boralá blog)

Tai a história dos amigos, acima uma foto do vale do Peruaçu:

Estávamos em uma excursão promovida pela Sociedade Excursionista e Espeleológica dos alunos da Escola de Minas de Ouro Preto, carinhosamente conhecida como “Spé”, em Januária. Era julho de 1977, e a viagem de Ouro Preto durava, em média, umas vinte horas de ônibus, asfalto só até Montes Claros, depois poeira e mais poeira.

Naquela época, o Vale do Peruaçu era território conhecido de poucos iniciados, após a sua descoberta espeleológica, arqueológica e ambiental - em suas múltiplas vertentes - pelo pessoal da Spé, a partir de estudos de aerofotogeologia, sucedidos de expedições comprovadoras e extasiantes. Gruta Bonita, Lapa de Rezar, dos Desenhos, Morcego Rompante e tantas outras cavernas se somavam à emblemática Gruta do Janelão, portal do Vale.

Acampados na Fazenda do Seu Antônio Milhão, às margens das águas frescas do rio Peruaçu, nossa equipe se dividia em planejadas tarefas prospectoras e mapeantes. As maritacas estralavam seus gritos agudos no azul da manhã, repassando-nos seu entusiasmo. Os bugios, irados, roncavam alto e balançavam nervosamente as árvore nos altos dos afloramentos de calcário.

Organizado o material, quebrado o carbureto – seu cheiro impregna-me ainda as narinas da memória – distribuídas as cargas e os roteiros, saíamos em busca da beleza oculta, em cenário de outro mundo.

Na boca da noite, suados e sorridentes, repassávamos as aventuras do dia, e preparávamos os planejamentos do seguinte. Enquanto a janta não ficava pronta, pinga da boa lavava os esôfagos empoeirados ( Januária já foi mais famosa que Salinas) e a prosa corria solta. Paulão, Zé Paulo, Zezim Carneiro, Vilanova, Bicho Magro, Ruizim, Bagrão, Pacote, Parteira, Macartur, Corbani, essa era a turma.
No retorno do banho em um meandro do Peruaçu, ouvimos um som estranho próximo ao tronco de árvore caído. A luz fraca da lanterna mostrou uma baita cobra engolindo um sapo. O facão sibilou, rápido, e a cobra perdeu a cabeça.

Fim inglório de um grande réptil: devidamente desencourada e limpa, a cobra foi pra panela. Quem comeu gostou...

Lembrando-me do caso, encontrei essas notas e receita.
A cobra
A cobra oferece uma carne muito deliciosa, e que não é somenos à melhor do peixe, com a qual ela se assemelha. As pessoas que comeram a carne de cobra, a preferem a qualquer outra. A melhor vantagem, porém, que apresenta o uso desta carne, que é muito eficaz na cura das moléstias do coração, da sífilis inveterada, e sobretudo da morféia, que estando ainda no princípio, desaparece totalmente c
om o uso da carne de cobra.

É inútil dizer-se que deve-se deixar de parte o horror que inspira este animal, e ainda mais o prejuízo de dizer-se que a sua carne
é venenosa; sabe-se perfeitamente que o veneno só existe em umas bolsinhas colocadas debaixo das presas; além disto, este próprio veneno ingerido não faz mal algum; é nocivo e até mortal quando está perto e em contato com o sangue.

É portanto necessário antes de prepará-lo, cortar a cabeça do animal, depois tirar-se o couro, e finalmente abri-lo e limpá-lo.

A carne das cobras vivíparas é prefer
ível à carne das ovíparas, e entre as cobras vivíparas, é a do cascavel a mais delicada e eficaz.

Cobra refogada
Corta-se uma cobra em pedaços, refogam-se com duas colheres de gordura e uma cebola picada; apolvilham-se com uma colher de farinha de trigo, e uma xícara d’água, sal, salsa, pimentas, e um pouco de noz moscada rapada; deixa-se ferver perto do fogo, até cozer, tendo incorporado o molho, com duas gemas d’ovos desfeitas em um cálix de vinho, e serve-se.
O QUE O CARIOCA COMIA NO SÉCULO XIX (Receitas extraídas do Cozinheiro Nacional)
CRULS, Gastão. Aparência do Rio de Janeiro; notícia histórica e descritiva da cidade. 2 v. Rio de Janeiro, Livraria José Olímpio Editora, 1965. Coleção Rio Quatro Séculos 

http://www.jangadabrasil.com.br/fevereiro18/cp18020b.htm





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