domingo, 18 de agosto de 2013

Varjão de Minas no Sertão das Gerais - Com uma receita de Pato assado com Serviettenkloss.











No mês de julho de 2013 estava no noroeste de Minas Gerais, no município de Varjão de Minas, cidade pacata que fica às margens da rodovia Pirapatos (Br 354), com uma população em torno de 10.000 habitantes.

Uma cidade de povo hospitaleiro e de boa de prosa, sentados nos bares no final da tarde é possível conhecer um pouco da história e da vida dos moradores, os bares estão distribuídos ao longo da avenida que corta a cidade e no final de tarde torna-se o point principal onde a população faz as caminhadas e butequeia, outras opções nem pensar.

A região faz parte dos sertões mineiros, que Guimarães Rosa já dizia que são vários. Ao mesmo tempo em que concentra municípios extremamente pobres, também apresenta cidades bem desenvolvidas onde a topografia plana facilita a prática de agricultura irrigada. A morfologia da área está assentada sobre rochas arenítica de idade cretácea, além de calcários e metapelitos do Grupo Bambuí. A evolução para o relevo atual passa por períodos onde as condições climáticas e tectônicas foram determinantes. No aspecto tectônico a história do relevo remonta a abertura do Atlântico sul, com a separação dos continentes Americano e Africano, já o clima passa por períodos de extrema aridez, a nível desértico, a períodos úmidos onde as rochas foram sedimentando e compondo o arcabouço geológico da região, sem esquecer que atividades vulcânicas também se fizeram presentes, e são responsáveis pela presença de diamante em toda região.

A evolução do relevo toma a sua forma atual a partir da idade terciária quando um ciclo erosivo impõe extensas superfícies de aplainamento que hoje pode ser observadas na forma de chapadas, serras e planícies fluviais. As rochas cretáceas estão numa posição privilegiadas, de cima das chapadas observam toda a movimentação da região. No fundo do vale o ribeirão Andrade vai serpenteando, sem pressa esculpindo sua calha, se jogando em cachoeiras até chegar ao rio Abaeté, este, mais imponente, recebe as águas claras do Andrade e segue rumo ao rio São Francisco.




Sem dúvida nesta região e seus arredores estão os aquíferos que mantém a vazão dos rios na época de seca, principalmente o rio São Francisco, que já foi denominado rio da integração nacional e que se algum dia os “entendidos” do governo realmente quiserem fazer a transposição das águas do São Francisco, e não apenas ludibriar o sofrido povo nordestino, será necessário atuar fortemente na preservação do ecossistema da região noroeste de Minas Gerais. São estes aquíferos os responsáveis pela manutenção da vazão dos rios durante o período seco do ano hidrológico, com isso criar condições para aumentar a infiltração das águas de chuva no aquífero, é o grande desafio, para isso é preciso conter o desmatamento e por consequência controlar a expansão da agricultura, desenvolvendo técnicas agrícolas menos agressiva ao solo e as águas.  


Outra face da região é seu povo, com um sotaque bem mineiro, assumindo o lado caipira, sem nada de pejorativo, mais sim com seus hábitos tradicionais, de prosa calma e sorriso largo, pessoas que nos fins de tarde circulam pela cidade, param para comer churrasquinho, em churrasqueiras singelas dispostas ao longo da avenida. Na região quando se fala em gastronomia invariavelmente aparecem os derivados de milho, a pamonha que pode ser salgada ou doce, às vezes frita para acompanhar o café ou a refeição, o mingau, este doce, e angu que fica maravilhoso quando acompanha um frango ou galinha. Na galinha sempre aparece o açafrão.

Nesta ultima semana, deparei com uma festa que acontece todos os anos em Andrequicé, que fica a menos de 30 km de Varjão de Minas, Andrequicé, não é a cidade do Manuelzão do Grande Sertão Veredas. A festa é para à padroeira, Nossa Senhora da Abadia. Segundo os moradores, a romaria de Nossa Senhora da Abadia vem de muito tempo onde o santuário recebe milhares de peregrinos que chegam de motos, carros, bicicletas, carros de boi, a cavalo ou mesmo a pé. Não importa a forma como se deslocam, o importante mesmo é chegar em paz, agradecer, pagar as promessas e se divertir. A festa oficialmente é realizada no dia 15 de agosto, mas desde os primeiros dias do mês, o povoado recebe um bom número de romeiros, turistas e vendedores ambulantes, que circulam e movimentam as ruas gerando um impulso no comércio local. No dia 09/08 presenciei uma romaria que saiu de Varjão de Minas para Andrequicé com os romeiros em carros de bois, neste ano tinha mais de 40 carros, são dois dias de romaria, com pouso no meio do caminho, regado com muita fé, comida boa, cerveja gelada e boa prosa.




 É uma terra onde as tradições estão presentes, como narrada por um amigo novo, que conheci neste trabalho. Numa tarde sentou para uma cerveja gelada e junto com ele, a esposa e dois filhos, não tenha dúvida uma família muito agradável, feliz e de boa prosa. No embalo da cerveja, veio a pergunta de como o casal de conheceu? A esposa tomou a narrativa e começou a contar a história, que deixou o Augusto, colega geólogo, perplexo, lógico para os dias de hoje, porém em outros tempos e numa cidade pequena não deve ser incomum.
 Nosso amigo já era Engenheiro, doutor, trabalhava lá pelas bandas de São Paulo, mais não podia aparecer um feriado, que pegava seu carro é ia para casa dos pais, numa pequena cidade, Lagoa Formosa, que fica perto de Patos de Minas.  Num destes dias ao chegar, conheceu uma menina tímida, com um jeitinho todo matreiro, era filha de um compadre de seus pais que morava na roça e que estava na cidade, pois estava adoentada. Logo o Doutor Engenheiro se engraçou pela menina.

Chegando a noite ele deu uma volta pela cidade, mas a menina não saiu da cabeça, mal rodeou a praça e voltou pra casa. Chegou, sentou na sala ao lado de sua mãe e da menina que assistiam televisão, mas os olhos eram só para a mocinha. A hora que a mãe deu boa noite ele se alvoroçou, porém o banho de água fria veio antes do pensamentos tomar conta da sala, mal sua mãe se levantou a menina saiu de fininho e se recolheu.

A mãe do rapaz percebeu e deu uma de cupido, ligou para o compadre e fez o meio de campo e marcou um almoço na fazenda, menos de um mês o Amigo retornou a cidade e, teve que levar mãe para visitar os compadres. Chegando à fazenda, primeiro veio o café  com pão de queijo, uma volta pelo quintal para apanhar umas frutas e nada da menina aparecer. Chegou a hora do almoço, o cardápio domingueiro das famílias do interior, frango caipira, macarronada, tutu e uma bela salada de alface com tomate. Sentaram todos ao redor da mesa e veio o imprevisto, o Doutor não gosta de frango caipira, da pra acreditar? O homem gosta é de frango de granja... mas fazer o quê? Nesta hora foi melhor o doutor engolir a refeição tomar uma talagada de uma branquinha que apareceu na mesa e criar coragem para pedir em namoro a menina, que estava sentada ao lado da mãe, tímida mais, bem interessada no rapaz.  No fim a história teve um final feliz, o casamento aconteceu, nasceram dois garotos lindos, gêmeos e o casal leva a vida na tranquila cidade do interior. Porém para relaxar a “Patroa” sempre Diz
“Ele me tirou da roça pra trazer para outra roça”

Bom, como sempre deixo uma receita no final da prosa vou deixar nesta página com preparar um pato. Na verdade para melhor traduzir a região iria muito bem uma recita de frango com açafrão, porém esta receita já tem no blog e acompanha o texto de nome dePelos caminhos do sertão Mineiro – Frango com Açafrão” no endereço  http://joaotomate.blogspot.com.br/2011/10/pelos-caminhos-do-sertao-mineiro-frango.html












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