No mês de
julho de 2013 estava no noroeste de Minas Gerais, no município de Varjão de Minas, cidade pacata que fica às margens da
rodovia Pirapatos (Br 354), com uma população em torno de 10.000 habitantes.
Uma cidade de povo hospitaleiro e de boa de prosa, sentados nos bares no
final da tarde é possível conhecer um pouco da história e da vida dos
moradores, os bares estão distribuídos ao longo da avenida que corta a cidade e
no final de tarde torna-se o point principal onde a população faz as caminhadas
e butequeia, outras opções nem pensar.
A região faz
parte dos sertões mineiros, que Guimarães Rosa já dizia que são vários. Ao
mesmo tempo em que concentra municípios extremamente pobres, também apresenta
cidades bem desenvolvidas onde a topografia plana facilita a prática de
agricultura irrigada. A morfologia da área está assentada sobre rochas arenítica
de idade cretácea, além de calcários e metapelitos do Grupo Bambuí. A evolução
para o relevo atual passa por períodos onde as condições climáticas e
tectônicas foram determinantes. No aspecto tectônico a história do relevo
remonta a abertura do Atlântico sul, com a separação dos continentes Americano
e Africano, já o clima passa por períodos de extrema aridez, a nível desértico,
a períodos úmidos onde as rochas foram sedimentando e compondo o arcabouço
geológico da região, sem esquecer que atividades vulcânicas também se fizeram
presentes, e são responsáveis pela presença de diamante em toda região.
A evolução do
relevo toma a sua forma atual a partir da idade terciária quando um ciclo
erosivo impõe extensas superfícies de aplainamento que hoje pode ser observadas
na forma de chapadas, serras e planícies fluviais. As rochas cretáceas estão
numa posição privilegiadas, de cima das chapadas observam toda a movimentação
da região. No fundo do vale o ribeirão Andrade vai serpenteando, sem pressa
esculpindo sua calha, se jogando em cachoeiras até chegar ao rio Abaeté, este,
mais imponente, recebe as águas claras do Andrade e segue rumo ao rio São
Francisco.
Sem dúvida nesta
região e seus arredores estão os aquíferos que mantém a vazão dos rios na época
de seca, principalmente o rio São Francisco, que já foi denominado rio da
integração nacional e que se algum dia os “entendidos” do governo realmente
quiserem fazer a transposição das águas do São Francisco, e não apenas ludibriar
o sofrido povo nordestino, será necessário atuar fortemente na preservação do
ecossistema da região noroeste de Minas Gerais. São estes aquíferos os responsáveis
pela manutenção da vazão dos rios durante o período seco do ano hidrológico,
com isso criar condições para aumentar a infiltração das águas de chuva no
aquífero, é o grande desafio, para isso é preciso conter o desmatamento e por
consequência controlar a expansão da agricultura, desenvolvendo técnicas agrícolas
menos agressiva ao solo e as águas.
Outra face da
região é seu povo, com um sotaque bem mineiro, assumindo o lado caipira, sem
nada de pejorativo, mais sim com seus hábitos tradicionais, de prosa calma e sorriso
largo, pessoas que nos fins de tarde circulam pela cidade, param para comer churrasquinho,
em churrasqueiras singelas dispostas ao longo da avenida. Na região quando se
fala em gastronomia invariavelmente aparecem os derivados de milho, a pamonha
que pode ser salgada ou doce, às vezes frita para acompanhar o café ou a
refeição, o mingau, este doce, e angu que fica maravilhoso quando acompanha um
frango ou galinha. Na galinha sempre aparece o açafrão.
Nesta ultima
semana, deparei com uma festa que acontece todos os anos em Andrequicé, que fica
a menos de 30 km de Varjão de Minas, Andrequicé, não é a cidade do Manuelzão do
Grande Sertão Veredas. A festa é para à padroeira, Nossa Senhora da Abadia. Segundo
os moradores, a romaria de Nossa Senhora da Abadia vem de muito tempo onde o
santuário recebe milhares de peregrinos que chegam de motos, carros,
bicicletas, carros de boi, a cavalo ou mesmo a pé. Não importa a forma como se
deslocam, o importante mesmo é chegar em paz, agradecer, pagar as promessas e
se divertir. A festa oficialmente é realizada no dia 15 de agosto, mas desde os
primeiros dias do mês, o povoado recebe um bom número de romeiros, turistas e
vendedores ambulantes, que circulam e movimentam as ruas gerando um impulso no
comércio local. No dia 09/08 presenciei
uma romaria que saiu de Varjão de Minas para Andrequicé com os romeiros em
carros de bois, neste ano tinha mais de 40 carros, são dois dias de romaria,
com pouso no meio do caminho, regado com muita fé, comida boa, cerveja gelada e
boa prosa.
É uma terra onde as tradições estão presentes,
como narrada por um amigo novo, que conheci neste trabalho. Numa tarde sentou
para uma cerveja gelada e junto com ele, a esposa e dois filhos, não tenha dúvida
uma família muito agradável, feliz e de boa prosa. No embalo da cerveja, veio a
pergunta de como o casal de conheceu? A esposa tomou a narrativa e começou a
contar a história, que deixou o Augusto, colega geólogo, perplexo, lógico para
os dias de hoje, porém em outros tempos e numa cidade pequena não deve ser
incomum.
Nosso amigo já era Engenheiro, doutor,
trabalhava lá pelas bandas de São Paulo, mais não podia aparecer um feriado, que
pegava seu carro é ia para casa dos pais, numa pequena cidade, Lagoa Formosa,
que fica perto de Patos de Minas. Num
destes dias ao chegar, conheceu uma menina tímida, com um jeitinho todo
matreiro, era filha de um compadre de seus pais que morava na roça e que estava
na cidade, pois estava adoentada. Logo o Doutor Engenheiro se engraçou pela
menina.
Chegando a
noite ele deu uma volta pela cidade, mas a menina não saiu da cabeça, mal
rodeou a praça e voltou pra casa. Chegou, sentou na sala ao lado de sua mãe e
da menina que assistiam televisão, mas os olhos eram só para a mocinha. A hora
que a mãe deu boa noite ele se alvoroçou, porém o banho de água fria veio antes
do pensamentos tomar conta da sala, mal sua mãe se levantou a menina saiu de
fininho e se recolheu.
A mãe do rapaz
percebeu e deu uma de cupido, ligou para o compadre e fez o meio de campo e
marcou um almoço na fazenda, menos de um mês o Amigo retornou a cidade e, teve
que levar mãe para visitar os compadres. Chegando à fazenda, primeiro veio o
café com pão de queijo, uma volta pelo
quintal para apanhar umas frutas e nada da menina aparecer. Chegou a hora do
almoço, o cardápio domingueiro das famílias do interior, frango caipira,
macarronada, tutu e uma bela salada de alface com tomate. Sentaram todos ao
redor da mesa e veio o imprevisto, o Doutor não gosta de frango caipira, da pra
acreditar? O homem gosta é de frango de granja... mas fazer o quê? Nesta hora
foi melhor o doutor engolir a refeição tomar uma talagada de uma branquinha que
apareceu na mesa e criar coragem para pedir em namoro a menina, que estava sentada
ao lado da mãe, tímida mais, bem interessada no rapaz. No fim a história teve um final feliz, o
casamento aconteceu, nasceram dois garotos lindos, gêmeos e o casal leva a vida
na tranquila cidade do interior. Porém para relaxar a “Patroa” sempre Diz
“Ele me tirou
da roça pra trazer para outra roça”