No ano de 2009 tive prazer de trabalhar no Município de Jenipapo de Minas, localizado no vale do Jequitinhonha, aproximadamente 600 km da Capital. Numa destas viagens escrevi o textos a seguir:
O trabalho teve por objetivo estudar os efeitos da variação do nível de água, decorrente da operação da barragem de Setubal, sobre as encostas do reservatório. Nesta viagem estive em companhia de profissionais de alto nível, além de amigos de longa data: Pedro Garcia (Eng. Geólogo), Mauro Megale (Eng. Florestal) e Eduardo Sperlling (Eng. Sanitarista).
Partimos de Belo Horizonte numa manhã de terça feira - ouvindo e contando histórias. Pegamos um atalho, passando por Cordisburgo, para evitar as paradas que decorrentes da duplicação da BR040, 40 km de terra mais compensa, depois Curvelo, Inimutaba (onde segundo Pedro tem um festão na chegada da primavera), Diamantina, fica a porta principal do vale do Jequitinhonha, Couto de Magalhães, Turmalina, Minas Nova, até chegar ao primeiro destino da viagem: Jenipapo de Minas ou será Genipapo de Minas, a dúvida da grafia vai perdurar, tem placas com as duas formas.
Em Jenipapo, o trabalho é correr do futuro reservatório de Setúbal. Uma barragem que a Ruralminas está construindo no sertão mineiro, uma obra maravilhosa, que se tudo correr bem, e os “políticos” não desviarem a verba necessária, para acabar a obra e criar os perímetros de irrigação planejados, aquele povo vai ter a água que necessita, para viver com dignidade na sua terra – deixando de lado a migração para os canaviais paulista ou para as favelas das grandes cidades.
O povo do Jequitinhonha sofre com a seca, mais é um povo alegre, acolhedor, tem sempre um sorriso e uma história para contar aos visitantes.
O dia terminou quando já estávamos chegando à cidade. Nesta altura o Mauro, que trabalha na barragem a mais de ano, já estava impaciente, querendo mostrar a cidade, mas com a boca seca. Os outros três viajantes a procura de um buteko de qualidade. Eu sigo uma velha filosofia geológica “no campo.... água só até as 3 da tarde” depois só cerveja - não tendo serve em qualquer temperatura, nesta situação tire a poeira da garrafa.
Mauro insistia no tour, pegamos uma rua e o Pedro parou em frente ao bar do DOCA, chamou, perguntou da cerveja e do tira gosto, encomendou uma porção de lambari, e seguimos no tour, mas na verdade o pessoal já queria ficar no buteko, mas a insistência do Mauro rendeu mais uns 10 minutos pela grande Jenipapo.
Retornamos ao bar do Doca, a mesa já estava arrumada no passeio, cerveja chegou logo, no ponto!! - desta vez discussão nem da escolha da marca, pois o Eduardo, foi genial, pegou a palavra e filosofou, “não existe cerveja ruim, o que existe são cervejas melhores do que outras” ai Mauro chamou Doca....... vem a mais gelada.
Mauro, como um bom anfitrião, partiu para a narrativa dos últimos acontecimentos da Metrópole, o fato mais recente deixou toda a comunidade Jenipapense triste, foi à constatação de que a cidade não estava entre as cidades escolhida para sediar a copa de 2014. Mauro é um convicto defensor da reivindicação. Afinal, como diz o amigo, Jenipapo tem uma localização privilegiada a 700 km de BH, o trajeto, via terrestre já quase todo asfaltado – sem asfalto só os 60 km que liga a Minas Nova, campo de aviação nem precisa aqueles chapadões, planos, serve para qualquer Boeing aterrizar. De fato a estrutura hoteleira não é das mais adequadas mais dividindo com Francisco Badaró e Chapada do Norte daria para hospedar muita gente. E o clima, 35° C, no inverno, é ideal a pratica do esporte Bretão.
O papo passa pela área técnica, onde o Mauro está indignado com uns fiscais do órgão ambiental que insistem em atrasar o desmate da área de inundação. Alegam que tem remanescente de Mata Atlântica no sertão. Ai fica a grande duvida: a barragem já esta quase pronta, em setembro fecha as comportas, qual a melhor opção, retirar a madeira ou deixar debaixo d’água. Mas o Mauro vai mais longe não concorda em colocar mandacaru e umbuzeiro na mata atlântica.
Veio o lambari frito mais cerveja, entremeadas com umas da “roça”, até que o Doca ofereceu uma dobradinha, a noite foi adiantando os casos aparecendo, grau alcoólico aumentando, pessoas da cidade passando, dando boa noite, as moças olham de rabo de olho, os meninos ganham uma balinha. O padre parou, falou com o Mauro sobre a capela que vai ser construída numa das agrovilas, tomou uma cerveja e seguiu para Badaró.
Nesta altura Pedro lembrou que ele havia prometido para a Tereza uma dobradinha com fava, daí não teve jeito, sacramentou o compromisso e cumpriu na ultima terça feira.
Dobradinha é daqueles pratos que gera discórdia. Como diz um velho amigo, o Marcinho, dos tempos do CETEC, grande cozinheiro, não come dobradinha, porém numa mesa de bar sempre que alguém fala que não “apreceia” o prato, aparece um e diz - "não come porque não conhece a dobradinha feita pela mamãe”. Mas é um prato que tem as suas particularidades.
Bem feito fica muito bom. Ainda, se você estiver preparando e chegar convidados não previstos, dá para inteirar sem problema, corte uma toalha de banho, daquelas bem felpudas que o problema tá resolvido.
Bom a dobradinha que Pedro e Isaura prepararam ficou DEZ, segundo o anfitrião a receita é mais ou menos esta:
Ingredientes
3 colheres de azeite
3 dentes de alho amassados
2 tomates sem sementes e sem pele cortado em cubo
1 cebola média picada
1 tablete de caldo de legumes
2 fatias de bacon picado
2 paios defumados
1/2 kg de costelinha de porco defumada
1,5 kg de dobradinha picada
Salsa e cebolinha para salpicar
Não se esqueça da fava, pega melhor uma fava verde – aquela que parece uma pataca
Preparo:
1. Comece limpando a dobradinha – tire todo aquele sebo que fica grudado e abuse do vinagre ou limão capeta. Complete a limpeza fervendo em duas ou três águas.
2. Cozinhe a dobradinha em panela de pressão com uma folha de louro por uns 20 minutos – depois corte em tiras
3. A fava tem um amargo bom, aferventá-la três a quatro vezes, trocando sempre a água;
4. Numa panela - doure a cebola o alho e acrescente a dobradinha a costelinha, o bacon e o paio - deixe dar uma fritada quando começar pregar no fundo a panela jogue os cubos de tomate o caldo de carne e a fava.
5. Acrescente água e deixe ferver, acerte a sal – e deixei o caldo engrossar.
Servir bem quente com arroz banco, farinha e muita pimenta.
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