Numa mesa de boteco a prosa, regada a feijoada, cerveja e cachaça e amigos sempre surge boas ideias. Neste dia o amigo Floriano Costa, narrou uma de suas aventuras, esteve em Resplendor, cidade do leste mineiro, numa viagem de trem para saborear uma bela moqueca de lagostim, pescado no rio Doce, no restaurante do Gilmar. A partir deste dia, iniciei o planejamento de refazer esta viagem, no primeiro momento o próprio Floriano sugeriu que fôssemos até Aimorés, pois tinha a informação de que lá a moqueca era mais caprichada. Descobri o restaurante Canto da Fia, entrei em contato e confirmei que a moqueca de lagosta está cardápio, mais é bom reservar, pois este crustáceo está rareando na região.
Fazendo um parêntese na história, uma rápida pesquisa pela
internet veio informações sobre a lagosta de água doce, como é conhecida no
leste de Minas Gerais, tem a casca alaranjada depois de cozida, carne é branca e o gosto muito parecido com a lagosta
do mar. No entanto, não são aparentadas pertencem a famílias distintas. A
lagosta de água doce é da família Palaemonidae e da espécie Macrobrachium
carcinus e a do mar, da família Palinuridae, espécies Panulirus argus e P.
laevicauda, mais, depois de ter apreciar o prato posso afirmar, confesso que não
percebi diferença no sabor.
De posse das informações comecei montar o programa, convida
um aqui, outro acolá, nas mesas de buteko, depois da cerveja muitos se
interessam, passa os efeitos do álcool há desistência, afinal 24 horas de
viagem no bate e volta, não é fácil, só o espirito da aventura segura o animo, por
fim fechamos a data, dia 19 de outubro, definimos por Aimorés”, e os
companheiros de viagem só cabras pau pra toda obra: Ricardo e Hilda, Meu amor,
e o amigo Floriano que veio se juntar ao grupo em Aimorés, Ricardo ainda no
ultimo dia tentou sair mas ai, já era tarde.
No sábado, 19 de outubro embarcamos na praça da estação às
07h30min, o trem é o Vitória – Minas,
diga-se por sinal a única ferrovia que mantém um trem de passageiro diário no
Brasil de hoje, sempre pontual, no seu ritmo cadenciado de viagem. A cada
estação uma rápida parada, dois, três minutos, o suficiente para embarque e
desembarque de passageiros.
Velho
maquinista, com seu boné
lembra
o povo alegre que vinha cortejar
Maria
Fumaça, não canta mais
Para
moças, flores, janelas e quinais
Da musica de Milton e Fernando Brandt só o apito em
cada curva, hoje os trens são modernos, comparados às antigas “Maria Fumaça”,
os vagões confortáveis, poltronas estofadas, ar condicionado, há vagão que
funciona como lanchonete, outro como restaurante, vagão exclusivo para
portadores de necessidades especiais. O serviço de bordo atende todos os
ambientes. A cada apito anuncia uma curva
ou uma estação, onde se observa a fisionomia de alegria de pessoas esperando
quem chega ou de tristeza de quem parte, ao lado curiosos que só param para ver
o trem e outros fazem deste momento o meio de faturar algum dinheiro, com venda
de doces, frutas e outras quinquilharias da região.
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega prá ficar
Tem gente que vai
Prá nunca mais...
A vida se repete na estação
Tem gente que chega prá ficar
Tem gente que vai
Prá nunca mais...
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai, quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir...
Tem gente que vai, quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir...
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem
Da partida...
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem
Da partida...
E no balanço do trem vão desfilando
as estações retratando a história de ocupação do leste mineiro: estação “Dois
Irmãos”, acesso a Santa Barbara e Barão de Cocais, ao fundo a imponência da
serra do Caraça onde se ergueu um Santuário em 1770 e depois, por volta de 1800
é fundado o Colégio por onde nos 1820 a 1835, passaram 1535 alunos. (http://www.santuariodocaraca.com.br).
Depois vamos deixando o vale do aço e entrando numa das
regiões mais linda desta parte do estado o Parque estadual do Rio Doce e as
estações vão se sucedendo: Intendente Câmara, Ipaba, Belo Oriente, Frederico
Sellow, Periquito, Açucena, Pedra Corrida e Governador Valadares. Em Valadares
a parada é um pouco maior, lá troca a tripulação e dá tempo aos fumantes matar
a vontade, afinal é muito tempo sem um cigarro.
Governador
Valadares onde o pico do Ibituruna guarda a cidade
Ai vem Galileia, São Tomé do Rio Doce, Conselheiro Pena, Barra do Cuité, Resplendor, Crenaque. Nestas terras vive tribo dos índios Krenak. Povo indígena que habita a margem esquerda do rio Doce a quem os portugueses denominavam Botocudos, de forma pejorativa, em referência aos adornos que usavam nas orelhas e bocas. Os índios Krenak foram os últimos a negociar o processo de pacificação que ocorreu no ano de 1911 e hoje se presencia o fim da sua cultura e vivem na miséria sem a assistência devida para um povo que já foi o dono da terra.
Por fim após 11:40 h depois de partir de Belo Horizonte
chegamos a Aimorés, eram 17: 20 h, a garganta seca e o calor, nos fez apenas
parar no hotel, deixar as malas e sair a procura de um Buteko, algumas cervejas
um passeio pela cidade de Aimorés, que nos surpreendeu, pela hospitalidade, a
limpeza das ruas e a cordialidade do povo da cidade.
Uma pena foi não ter dado tempo de visitar o Instituto Terra
que fica no município, para quem não sabe este Instituto foi fundado pelo Fotógrafo
Sebastião Salgado e sua esposa Lélia Salgado que a pouco mais de uma década
adquiriu uma fazenda de gado e desenvolveu um programa de cunho ambienta e
social. Hoje o Instituto Terra já mostra seus frutos com mais de 7000 ha de
área recuperada e produção de mais de 4 milhões de mudas de espécies de Mata
Atlântica. O projeto é um grande exemplo onde a antiga fazenda de gado, antes
completamente degradada, hoje abriga uma floresta rica
em diversidade de espécies da flora de Mata Atlântica. A experiência comprova
que junto a recuperação do verde, nascentes voltam a jorrar, espécies da fauna
brasileira em risco de extinção, voltam a ter um refúgio seguro. (http://www.institutoterra.org).
Depois deste passeio um banho e um taxi que nos levou até o Restaurante
Canto da Fia para conhecer a moqueca de lagosta do rio Doce, afinal esse foi o
objetivo da viagem ai meus amigos.
O o prato dispensa comentários, fantástico a receita, pelo pouco que conversei com o pessoal da cozinha é esta:
O o prato dispensa comentários, fantástico a receita, pelo pouco que conversei com o pessoal da cozinha é esta:
Moqueca de
Lagosta
Ingredientes para 5 porções
1,5 kg de lagosta-de-água-doce inteira mais ou menos 15 lagostas, sem a cabeça, na verdade achamos pouco, dava para comer mais algumas sem exagero;
Ingredientes para 5 porções
1,5 kg de lagosta-de-água-doce inteira mais ou menos 15 lagostas, sem a cabeça, na verdade achamos pouco, dava para comer mais algumas sem exagero;
5 tomates sem
sementes e cortados em cubos;
3 cebolas
cortada em cubos;
Urucum para
colorir e dar gosto,
coentro fresco
que não gostar substituir por salsa,
sal, pimenta e
alho a gosto
e farinha de
mandioca para o preparo do pirão.
Modo de fazer
Retire a cabeça e lave a lagosta em água
corrente. Tempere a gosto. À parte, faça um refogado de tomate simples.
Acrescente o crustáceo e água suficiente para que sobre molho para o pirão.
Desligar o fogo depois de poucos minutos de fervura. Finalizar com coentro e
servir. Para fazer o pirão, acrescente farinha de mandioca à parte do molho do
refogado e misture até dar o ponto e sirva com arroz branco.
Depois do jantar, ainda tomamos duas cervejas num buteko
perto do hotel e nos recolhemos lá pelas 2 da madrugada, pois o trem retorna no
outro dia passando por Aimorés, exatamente às 10h26min. Chegamos em casa no
domingo a noite, cansados sim, mais com certeza que valeu a pena, dá pra
repetir?