JOÃO PÉ RODO - MORADOR ILUSTRE DA REPUBLICA BUTANTAN
OS TEXTOS A SEGUIR FORAM ELABORADOS NO ANO DE 2010
NAQUELE ANO A REPUBLICA BUTANTAN COMEMOROU O CENTENÁRIO DO JOÃO PÉ RODO, VULGO JOÃO DA MOTA, COM UMA GRANDE FESTA.
Há exatos 100 anos (08/03/1910), nascia no pequeno distrito de
Santo Antonio do Salto Preto, aquele que se tornaria
umas das figuras mais marcantes e emblemática da história folclórica ouropretana.
Neste ano nascia João da Motta, mas logo se tornaria “João Pé de Rodo”.
Figura humilde e carismática que conquistaria a todos pelo seu jeito singular e
característico de tratar as pessoas. “João Pé de Rodo” era filho do Sr. Manoel Luis da Mota e da Sra.
Josina Ferreira Guimarães, tendo ainda mais cinco irmãos.
Logo recebeu o apelido “Pé de Rodo” graças ao tamanho
desproporcional de seus pés em relação à sua altura. O que o fazia andar
“arrastando” os pés. Por muitos anos, “João Pé de Rodo” residiu na estimada República
BUTANTAN, na Praia do Circo ao lado da Prefeitura e lá viveu até o
ano de 1986 quando mais uma estrela veio a brilhar no céu de Ouro Preto.
E por todo este período conviveu de forma extremamente harmoniosa com os moradores da Republica Butantan. Recordemos também que para cuidar do João tivemos sempre o apoio Sr. Gentil de Souza,
Dona Célia e Cônego Simões (desculpem a omissão de outros nomes). Diga-se por sinal no velório do João que ocorreu na sala da Republica o Padre Simões esteve presente e na ocasião disse que era a primeira vez que ele entrava numa republica de estudantes.
Para nós (os estudantes), “João Pé de Rodo” era muito mais do que
um companheiro, ele era acima de tudo nosso amigo, um filho, um pai, uma figura
que apesar de sua ingenuidade demonstrava uma imensa e infinita sabedoria. Era tradicional na época do vestibular e dos trotes reunir os vestibulandos e bichas para assistir uma aula solene do João que usando um quadro negro que tínhamos na cozinha fazias seus desenhos e peripécias dando boas gargalhadas para todos que o assistiam, certamente, nestas aulas sempre tinha como monitor um aluno.
Que fique registrado a humildade e compaixão dos estudantes da
Republica BUTANTAN com a figura do “João Pé de Rodo” naquela época e que sirva
de exemplo para os nossos dias atuais, principalmente neste momento onde
convívio entre estudantes e ouro-pretanos tem se tornado cada vez mais
conflituoso.
Levaríamos mais 100 anos para contar os causos e as histórias de
“João Pé de Rodo”, suas noivas imaginárias, suas patentes militares, mas enfim,
fica aqui a nossa homenagem e lembrança pelo centenário de nascimento de
“Joãozinho” e que as futuras gerações e os mais novos não deixem cair no
esquecimento os seus ensinamentos, suas respostas malcriadas e inocentes e
frases ditas por ele, que traduziam o sentido simples de sua existência.
Estudantes da REPÚBLICA BUTANTAN
Ex - alunos que registraram sua memórias Dagoberto, ou Dago
João Motta (Pé de Rodo)
No inicio da década de 70 um tipo popular resolveu estabelecer
residência na Republica Butantan. João Motta, conhecido como João Pé-de-Rodo,
vivia pelas ruas de Ouro Preto, dizendo ser militar da reserva (“cavalaria
aérea” - dizia), dormia onde fosse possível, se alimentava pela bondade da
população ouro-pretana.
Fez amizade com um morador da Butantan e se deu o titulo professor
deste estudante. Quando seu “aluno” se formou, pegou as poucas coisas que
possuía e foi morar em um cômodo ao lado do tanque.
A UFOP, com a finalidade de aumentar o número de vagas na
república, resolveu construir mais um quarto nos fundos e construiu também um
pequeno quarto para o já “ilustre” morador. Pé-de-Rodo usava o único banheiro
existente na casa. Os estudantes, com receio que ficasse preso no banheiro, o
orientaram para não trancasse a porta (afinal ali só morava homem).
O tempo foi passando, o “militar” foi se promovendo: cabo, depois
sargento, algum tempo depois tenente. Nesta patente ficou pouquíssimo tempo,
pois o chamavam de “tenente do cú quente”. Logo se promoveu: capitão, não por
merecimento, mas por se achar desrespeitado. Ele não sabia, mas o país estava
em plena ditadura militar. Como não podia e nem sabia censurar, mudou a patente
e preservou sua dignidade.
Continuou “professor” dos moradores da república, dava aulas de
português, matemática, inglês e francês. Respondia com exatidão, sem usar
calculadora ou mesmo caneta e papel, “cálculos complicadíssimos”:
- “Três vezes um: três”,
respondia; “três vezes três: nove”; “nove: noves fora: nada” dizia satisfeito e
orgulhoso. “Cálculos matemáticos” eram sempre respondidos nesta ordem: “três,
nove e nada”.
Não se importava com pergunta, tinha sempre a resposta na ponta da
língua. Pé-de-Rodo foi se aperfeiçoando no magistério. Dava aulas também de
direito (código penal, ele dizia). Seu
grande momento como ”professor” aconteceu durante uma gincana promovida pelo
Colégio Don Veloso, onde pela única vez o “mestre” entrou em uma sala de aula.
Seus ”alunos”, em sinal de respeito ficaram de pé e assim permaneceram até que
recebessem autorização para sentar.
Foi talvez a aula mais curta que se tem noticia. Coisa de poucos
minutos, tempo suficiente para rabiscar alguma coisa no quadro negro e ouvir
seus pupilos, em uníssono, interpretar os garranchos: “A, B, C, D,......... X,
Y Z”. Terminada a “aula”, deixou o giz junto ao quadro negro, limpou as mãos
esfregando uma à outra, deu boa tarde à turma e se retirou, realizado.
João Pé de Rodo faleceu, com 76 anos de idade, em setembro de 1986
e foi velado na Butantan. O cortejo subiu, sem auxilio de carro fúnebre, pela
Rua da Escadinha, Rua São José (na contramão), ladeira atrás da Caixa Econômica
Federal, terminando na Igreja São José, onde Padre Simões celebrou missa de
corpo presente.
Uma das passagens interessantes do Pé de Rodo pela Butantan
ocorreu em um vestibular da UFOP. Nesta época as repúblicas normalmente estão
cheias de vestibulandos (as).
Entre as vestibulandas hospedadas na Butantan encontrava-se uma
menina com 17 ou 18 anos e que aparentemente nunca havia viajado sem a
companhia dos pais e muito menos hospedado em uma república. Estava acompanhada
de mais duas amigas e estas conheciam os moradores: “tudo gente boa”
disseram-lhe. Aceitou a hospedagem.
No primeiro dia de provas, por ser bem preparada, terminou rapidamente
a prova, tomou um lanche na Praça Tiradentes e retornou à Butantan para
descansar. Foi ao quarto onde estava sua bagagem, pegou a escova de dente e se
dirigiu ao único banheiro existente.
A casa estava praticamente deserta naquela hora. Abriu com cuidado
a porta do banheiro. Em sua frente estava o lavatório, abaixou a cabeça e
iniciou sua higiene bucal. Ao levantar a cabeça viu, pelo espelho, um senhor
com as calças arriadas, sentado no vaso sanitário. Girou o corpo e ficou cara a
cara com o “Pé-de-Rodo” que sem saber o que fazer ou falar deu um largo
sorriso, sem nenhum dente na boca.
A vestibulanda
se assustou, quase engoliu a escova, saiu correndo dizendo que tinha um tarado
no banheiro. Não adiantou as explicações sobre a patente do senhor sem dentes e
muito menos seu vasto conhecimento acadêmico. Arrumou suas malas e partiu no
primeiro ônibus. Foi a única vez que um “professor” reprovou alguém sem ao
menos testar seus conhecimentos. REPROVOU SÓ NO SUSTO!
Brasília, junho de 2.010
Dagô
CASOS
DO PÉ DE RODO/ CENTENÁRIO
O
EMPRÉSTIMO
Lá
pelo ano de 82 a República Casa Nova, vizinha da Butantan, resolveu promover
certo almoço ou jantar para alguns ex-alunos que estavam de passagem por Ouro
Preto, mas a república não tinha talheres e pratos para todos os
convidados. Sendo assim, enviou um
calouro, popularmente bicho, até a Butantan para pegar o material que faltava.
Na
época o Henrique, vulgo Parafuso, fez o empréstimo sem nenhuma complicação,
como era comum entre as Republicas da Praia do Circo. Porém outro morador da
Butantan, o Itamar popular Baixim, que sempre gostou de uma confusão, procurou
o ilustre João Pé de Rodo e contou que o Parafuso havia doado todos os talheres
e pratos da Butantan para a República Casa Nova.
Diante
de tal fato João Pé de Rodo, defensor ferrenho da Butantan, procurou o Parafuso
e deu a maior dura, ordenando que os talhares “doados” deveriam retornar
imediatamente à Butantan. O Parafuso tentou explicar, mas o João não se
convenceu, preferiu acreditar no Itamar. Nestas situações o João ficava
violento e agredia com o que estivesse mais perto, chute na canela, paulada nas
costas etc. o que obrigou o Parafuso a dormir de porta trancada e ficar sempre
alerta, pois sabia que a qualquer momento poderia ser surpreendido com alguma
bordoada.
Uma
pausa, a República conta com vários casos de moradores que levaram bordoadas do
João, tiveram que sair pela janela do quarto ou dormir com a porta trancada
para não ser surpreendido pelo Pé de Rodo, uma aconteceu com o Malária (vulgo
Vicente ou, para os mais íntimos Juninho), que certa vez teve que pular a
janela de seu quarto fugindo do Pé de Rodo que com um cabo de vassoura tentava
acertá-lo. Lógico, o Malária havia começado
a provocação, pouco antes baixou as calças
mostrado aquela bunda branca para o João, que fiou uma fera.
Voltando
ao caso do empréstimo dos talheres, acabou a festa a situação se resolveu, mas
Parafuso continuava desconfiado. Certo dia, estava tomando banho, claro, à
porta estava aberta seguindo norma da republica, foi então que a porta do
banheiro se abriu e soou um arrastar de pés, o Parafuso percebeu que a coisa
poderia ficar complicada, pois estava em um espaço confinado e sabia que
poderia ser presa fácil para o ataque do João. Silencio total barulho só do
chuveiro, então o ilustre João Pé de Rodo fez a tradicional pergunta: “Quem tá
ai?” Meio engasgado Parafuso respondeu baixinho, é o “Cascavé”, o João ficou
calado, usou o vaso e antes de sair do banheiro abriu a cortina do Box deu uma
de suas gargalhadas e gritou num tom de zombaria: Você não é o Cascavé não seu
filho da Puta. puxou a cortina e saiu resmungando.