sábado, 21 de abril de 2012

João Pé Rodo - Ex aluno da Butantan

JOÃO PÉ RODO - MORADOR ILUSTRE DA REPUBLICA BUTANTAN
 OS TEXTOS A SEGUIR FORAM ELABORADOS NO ANO DE 2010 
NAQUELE ANO A REPUBLICA BUTANTAN COMEMOROU O CENTENÁRIO DO JOÃO PÉ RODO, VULGO JOÃO DA MOTA,  COM UMA GRANDE FESTA.





  Há exatos 100 anos (08/03/1910), nascia no pequeno distrito de Santo Antonio do Salto  Preto, aquele que se tornaria umas das figuras mais marcantes e emblemática da história folclórica ouropretana.

Neste ano nascia João da Motta, mas logo se tornaria “João Pé de Rodo”. Figura humilde e carismática que conquistaria a todos pelo seu jeito singular e característico de tratar as pessoas. “João Pé de Rodo” era filho do Sr. Manoel Luis da Mota e da Sra. Josina Ferreira Guimarães, tendo ainda mais cinco irmãos.

Logo recebeu o apelido “Pé de Rodo” graças ao tamanho desproporcional de seus pés em relação à sua altura. O que o fazia andar “arrastando” os pés. Por muitos anos, “João Pé de Rodo” residiu na estimada República BUTANTAN, na Praia do Circo ao lado da Prefeitura e lá viveu até o ano de 1986 quando mais uma estrela veio a brilhar no céu de Ouro Preto.

E por todo este período conviveu de forma extremamente harmoniosa com os moradores da Republica Butantan. Recordemos também que para cuidar do João tivemos sempre o apoio Sr. Gentil de Souza, Dona Célia e Cônego Simões (desculpem a omissão de outros nomes). Diga-se por sinal no velório do João que ocorreu na sala da Republica o Padre Simões esteve presente e na ocasião disse que era a primeira vez que ele entrava numa republica de estudantes.

Para nós (os estudantes), “João Pé de Rodo” era muito mais do que um companheiro, ele era acima de tudo nosso amigo, um filho, um pai, uma figura que apesar de sua ingenuidade demonstrava uma imensa e infinita sabedoria. Era tradicional na época do vestibular e dos trotes reunir os vestibulandos e bichas para assistir uma aula solene do João que usando um quadro negro que tínhamos na cozinha fazias seus desenhos e peripécias dando boas gargalhadas para todos que o assistiam, certamente, nestas aulas sempre tinha como monitor um aluno. 

Que fique registrado a humildade e compaixão dos estudantes da Republica BUTANTAN com a figura do “João Pé de Rodo” naquela época e que sirva de exemplo para os nossos dias atuais, principalmente neste momento onde convívio entre estudantes e ouro-pretanos tem se tornado cada vez mais conflituoso.

Levaríamos mais 100 anos para contar os causos e as histórias de “João Pé de Rodo”, suas noivas imaginárias, suas patentes militares, mas enfim, fica aqui a nossa homenagem e lembrança pelo centenário de nascimento de “Joãozinho” e que as futuras gerações e os mais novos não deixem cair no esquecimento os seus ensinamentos, suas respostas malcriadas e inocentes e frases ditas por ele, que traduziam o sentido simples de sua existência.

E que para sempre possa ecoar nas ladeiras de Ouro Preto, os seus passos lentos e rastejantes...


Estudantes da REPÚBLICA BUTANTAN




 Ex - alunos que registraram sua memórias  Dagoberto, ou Dago

João Motta (Pé de Rodo)

No inicio da década de 70 um tipo popular resolveu estabelecer residência na Republica Butantan. João Motta, conhecido como João Pé-de-Rodo, vivia pelas ruas de Ouro Preto, dizendo ser militar da reserva (“cavalaria aérea” - dizia), dormia onde fosse possível, se alimentava pela bondade da população ouro-pretana.

Fez amizade com um morador da Butantan e se deu o titulo professor deste estudante. Quando seu “aluno” se formou, pegou as poucas coisas que possuía e foi morar em um cômodo ao lado do tanque.

A UFOP, com a finalidade de aumentar o número de vagas na república, resolveu construir mais um quarto nos fundos e construiu também um pequeno quarto para o já “ilustre” morador. Pé-de-Rodo usava o único banheiro existente na casa. Os estudantes, com receio que ficasse preso no banheiro, o orientaram para não trancasse a porta (afinal ali só morava homem).

O tempo foi passando, o “militar” foi se promovendo: cabo, depois sargento, algum tempo depois tenente. Nesta patente ficou pouquíssimo tempo, pois o chamavam de “tenente do cú quente”. Logo se promoveu: capitão, não por merecimento, mas por se achar desrespeitado. Ele não sabia, mas o país estava em plena ditadura militar. Como não podia e nem sabia censurar, mudou a patente e preservou sua dignidade.

Continuou “professor” dos moradores da república, dava aulas de português, matemática, inglês e francês. Respondia com exatidão, sem usar calculadora ou mesmo caneta e papel, “cálculos complicadíssimos”:

 - “Três vezes um: três”, respondia; “três vezes três: nove”; “nove: noves fora: nada” dizia satisfeito e orgulhoso. “Cálculos matemáticos” eram sempre respondidos nesta ordem: “três, nove e nada”.

Não se importava com pergunta, tinha sempre a resposta na ponta da língua. Pé-de-Rodo foi se aperfeiçoando no magistério. Dava aulas também de direito (código penal, ele dizia). Seu grande momento como ”professor” aconteceu durante uma gincana promovida pelo Colégio Don Veloso, onde pela única vez o “mestre” entrou em uma sala de aula. Seus ”alunos”, em sinal de respeito ficaram de pé e assim permaneceram até que recebessem autorização para sentar.

Foi talvez a aula mais curta que se tem noticia. Coisa de poucos minutos, tempo suficiente para rabiscar alguma coisa no quadro negro e ouvir seus pupilos, em uníssono, interpretar os garranchos: “A, B, C, D,......... X, Y Z”. Terminada a “aula”, deixou o giz junto ao quadro negro, limpou as mãos esfregando uma à outra, deu boa tarde à turma e se retirou, realizado.

João Pé de Rodo faleceu, com 76 anos de idade, em setembro de 1986 e foi velado na Butantan. O cortejo subiu, sem auxilio de carro fúnebre, pela Rua da Escadinha, Rua São José (na contramão), ladeira atrás da Caixa Econômica Federal, terminando na Igreja São José, onde Padre Simões celebrou missa de corpo presente.

Uma das passagens interessantes do Pé de Rodo pela Butantan ocorreu em um vestibular da UFOP. Nesta época as repúblicas normalmente estão cheias de vestibulandos (as).

Entre as vestibulandas hospedadas na Butantan encontrava-se uma menina com 17 ou 18 anos e que aparentemente nunca havia viajado sem a companhia dos pais e muito menos hospedado em uma república. Estava acompanhada de mais duas amigas e estas conheciam os moradores: “tudo gente boa” disseram-lhe. Aceitou a hospedagem.

No primeiro dia de provas, por ser bem preparada, terminou rapidamente a prova, tomou um lanche na Praça Tiradentes e retornou à Butantan para descansar. Foi ao quarto onde estava sua bagagem, pegou a escova de dente e se dirigiu ao único banheiro existente.

A casa estava praticamente deserta naquela hora. Abriu com cuidado a porta do banheiro. Em sua frente estava o lavatório, abaixou a cabeça e iniciou sua higiene bucal. Ao levantar a cabeça viu, pelo espelho, um senhor com as calças arriadas, sentado no vaso sanitário. Girou o corpo e ficou cara a cara com o “Pé-de-Rodo” que sem saber o que fazer ou falar deu um largo sorriso, sem nenhum dente na boca.

A vestibulanda se assustou, quase engoliu a escova, saiu correndo dizendo que tinha um tarado no banheiro. Não adiantou as explicações sobre a patente do senhor sem dentes e muito menos seu vasto conhecimento acadêmico. Arrumou suas malas e partiu no primeiro ônibus. Foi a única vez que um “professor” reprovou alguém sem ao menos testar seus conhecimentos. REPROVOU SÓ NO SUSTO!


Brasília, junho de 2.010

Dagô









CASOS DO PÉ DE RODO/ CENTENÁRIO

O EMPRÉSTIMO
  
Lá pelo ano de 82 a República Casa Nova, vizinha da Butantan, resolveu promover certo almoço ou jantar para alguns ex-alunos que estavam de passagem por Ouro Preto, mas a república não tinha talheres e pratos para todos os convidados.  Sendo assim, enviou um calouro, popularmente bicho, até a Butantan para pegar o material que faltava.

Na época o Henrique, vulgo Parafuso, fez o empréstimo sem nenhuma complicação, como era comum entre as Republicas da Praia do Circo. Porém outro morador da Butantan, o Itamar popular Baixim, que sempre gostou de uma confusão, procurou o ilustre João Pé de Rodo e contou que o Parafuso havia doado todos os talheres e pratos da Butantan para a República Casa Nova.

Diante de tal fato João Pé de Rodo, defensor ferrenho da Butantan, procurou o Parafuso e deu a maior dura, ordenando que os talhares “doados” deveriam retornar imediatamente à Butantan. O Parafuso tentou explicar, mas o João não se convenceu, preferiu acreditar no Itamar. Nestas situações o João ficava violento e agredia com o que estivesse mais perto, chute na canela, paulada nas costas etc. o que obrigou o Parafuso a dormir de porta trancada e ficar sempre alerta, pois sabia que a qualquer momento poderia ser surpreendido com alguma bordoada.

Uma pausa, a República conta com vários casos de moradores que levaram bordoadas do João, tiveram que sair pela janela do quarto ou dormir com a porta trancada para não ser surpreendido pelo Pé de Rodo, uma aconteceu com o Malária (vulgo Vicente ou, para os mais íntimos Juninho), que certa vez teve que pular a janela de seu quarto fugindo do Pé de Rodo que com um cabo de vassoura tentava acertá-lo. Lógico,  o Malária havia começado a provocação, pouco antes baixou as calças  mostrado aquela bunda branca para o João, que fiou uma fera.

Voltando ao caso do empréstimo dos talheres, acabou a festa a situação se resolveu, mas Parafuso continuava desconfiado. Certo dia, estava tomando banho, claro, à porta estava aberta seguindo norma da republica, foi então que a porta do banheiro se abriu e soou um arrastar de pés, o Parafuso percebeu que a coisa poderia ficar complicada, pois estava em um espaço confinado e sabia que poderia ser presa fácil para o ataque do João. Silencio total barulho só do chuveiro, então o ilustre João Pé de Rodo fez a tradicional pergunta: “Quem tá ai?” Meio engasgado Parafuso respondeu baixinho, é o “Cascavé”, o João ficou calado, usou o vaso e antes de sair do banheiro abriu a cortina do Box deu uma de suas gargalhadas e gritou num tom de zombaria: Você não é o Cascavé não seu filho da Puta. puxou a cortina e saiu resmungando.